Sexta-feira, 17.04.09

 Vicente, meu filhote de 3 anos, pediu para que consertasse a moto miniatura dele. Parei de escrever para atendê-lo. Quebrou um pino e não havia jeito de pôr em ordem. Ele repara no meu esforço em vão, nas várias tentativas, se compadece com a minha inabilidade e me consola: - pai, deixa assim, que eu brinco com a moto de outra forma. Foi uma iluminação. Não me falou para comprar uma nova. Não me avisou que botaria no lixo. Afirmou com naturalidade: "brinco de outra forma'.


No amor, quantas vezes a gente se fixa no erro e não desenvolve distintas maneiras de enxergá-lo? A imperfeição se torna uma obsessão. Se alguma coisa saiu do plano, parte-se do princípio que não mais dará certo. Se o namorado ou namorada, se o marido ou a mulher quebrou a confiança conclui-se que nunca mais haverá a mesma fidelidade e lealdade. Há uma rapidez tremenda em se desfazer daquilo que nos incomoda e nos enfrenta. Há uma predisposição em desmoralizar os sentimentos, como os brinquedos que perderam seu contorno original, e descartá-los. Não se aceita memória danificada, casamento com altos e baixos, namoro com tropeços. Deseja-se um roteiro superficial e perfeito, desprovido de personalidades. A inclinação é colocar fora, virar de costas e seguir adiante, esquecendo que o passado está à frente pronto para se repetir. Surge um problema do relacionamento e todo dia o problema tem que ser discutido, como se discutir fosse consertar o problema. Com a repetição, no mínimo, a desvalia será agravada. Uma ferida não se cura olhando a cada minuto para ela. O que um problema mais quer é a atenção exclusiva, para abafar as virtudes. Numa briga, todo mundo fala mal um do outro acima do que se acredita. Não contando com um repertório de ofensas para tanto tempo de raiva, inventa-se desaforos no calor do bafo, agride-se mesmo não confiando na veracidade da bile.


A necessidade de convencer, de mostrar-se certo, é maior do que a verdade, do que os ouvidos, do que o entendimento. Muitos só querem ter razão, ao invés de ter desejo. Muitos demonstram interesse, o que não é paixão. O que o par ambiciona é um pedido de desculpa. Mas o que adianta um pedir desculpa para uma agressão que é dos dois? Não é agradável confundir a casa com a sacristia de uma igreja. Errar é comum e faz bem. Culpar é que aniquila e anula a possibilidade de aprender com erro.

O amor começa por palavras de menos, termina por palavras a mais. Não se volta pelo caminho que se chegou. Qualquer volta é um novo caminho na boca. A dispersão ajuda o humor. De vez em quando, cabe não levar a sério a discordância. Não é o amor que estragou, é a imaginação que não vem se esforçando. Sempre existirá um jeito de brincar de outro modo, de brincar diferente.



[Carpinejar]



publicado por Cultivando Pés de Vento... às 09:30 | link do post | comentar | favorito

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